Eu moro em Kakuma, um sítio muito quente e seco, cheio de árvores espinhosas e com muitas mais cabras que pessoas. Até o mercado é um sítio calmo, com apenas umas poucas bancas. A maioria das pessoas usam bicicletas para transportes.

Um dia a minha mãe chamou-me e disse: "Etabo, hoje fizeste seis anos. Nós temos um presente para ti." "O que é? O que é?" perguntei eu ansiosamente. "Nós vamos amanhã com o autocarro até ao mercado em Eldoret", respondeu ela, "E vamos levar-te connosco!" A minha primeira visita à cidade! Eu fiquei tão excitada que quase não consegui dormir nessa noite.

No próximo dia, na paragem de autocarros de Kakumba, eu pus-me entre a minha mãe e a minha tia, vestido com o meu novo par de jeans azuis e t-shirt vermelha. Eu senti-me muito pequeno entre a minha alta e delgada mãe e a minha grande e redonda tia.

O autocarro estava muito cheio e por isso eu tive que ir sentado ao colo da minha mãe. Cansado do calor e da excitação, eu dormi durante todo o percurso e consegui ver coisa alguma.

Quando nós chegamos ao Mercado de Eldoret, já o sol se estava a pôr. À entrada estava uma mulher a vender grãos. Num canto estavam dois homens a preparar-se para vender as suas batatas doces. Num outro cantos estava uma pequena mulher a segurar um brilhante helicóptero azul. "Mãe, mãe, olha aquele helicóptero!" Mas a minha mãe puxou-me numa outra direção.

No meio do Mercado estava uma larga banca que vendia diferentes tipos frutas. Eu nunca tinha visto algumas dessas frutas. "Quais são os nomes destas frutas?" perguntei eu à minha mãe. Ela apontou com o dedo: "Estas são laranjas e estas são goiabas."

De todas as frutas da banca, eu gostava mais das maçãs. E gostava a suas formas e cores. Eu perguntei-me se elas eram saborosas. Eu voltei-me para a minha mãe e disse: "Podes compra-me uma maçã?"

Assim que a minha mãe me deu a maçã, eu larguei a sua mão, agarrei a maça com ambas as mãos e dei uma dentada na saborosa polpa. Eu nunca tinha saboreado uma fruta da maneira como estava a saborear aquela maçã. A minha maçã era tudo o que me interessava.

Quando eu terminei de comer a maça, eu olhei para cima para falar com a minha mãe. Mas não a encontrei! Eu olhei na direção por onde tínhamos vindo, mas a minha mãe e a minha tia já não aí estavam. Eu olhei para a direita e depois para a esquerda. Mas não as pude ver em algum lado. "Tu viste a minha mãe?" Perguntei a uma mulher que vendia batatas mesmo ao lado. Ela não me levou a sério. Eu comecei a chorar.

Um pouco mais tarde, uma mulher agarrou-me pela mão e levou-me para um lugar onde estavam outras crianças. Um homem grande com uma barba densa perguntou: "Como é que te chamas, rapaz?" "E-ta-bo", respondi de entre lágrimas.

Eu perguntei-me se as crianças eram também vendidas no Mercado. Eu parei de chorar e olhei em volta para ver se alguém ia comprar as crianças que estavam naquele espaço. Logo veio uma mulher e levou uma das crianças. "Eu serei o próximo a ser levado," pensei eu. "E depois nunca mais irei outra vez para casa!" Eu comecei a chorar mais uma vez.

Quando eu ouvi o homem grande com a espessa barba dizer, "Onde está o Etabo?" Eu chorei ainda mais. "Mas eu não quero ir convosco!" solucei. Eu afastei-me do homem.

Quando a minha mãe e a minha tia ouviram o meu nome, elas correram para o espaço em que eu estava. "Etabo, Etabo!" chamava uma voz familiar. Era a minha mãe.

Quando eu me levantei para abraçar a minha mãe, a minha tia disse: "Etabo, nós estávamos à tua procura para te oferecer o teu presente de aniversário." E de dentro de um grande saco, ela tirou um brilhante helicóptero azul. "É teu!" ela disse.