Raptados!
Richard Khadambi
Abraham Muzee

O meu amigo Kiki e eu gostamos de fazer explorações e conhecemos bem a nossa vizinhança. Quando estávamos a sair da escola, falámos sobre sítios a explorar naquele dia.

1

Decidimos cortar caminho pelo grande campo vazio perto da antiga estação de caminhos-de-ferro, apesar de o pai do Kiki nos ter avisado para não irmos por ali. Passado um pouco, apercebemo-nos de que um homem alto com uma longa gabardina preta estava a caminhar lentamente atrás de nós.

2

Abrandámos para ver o homem. A sua pele estava cheia de borbulhas. Os seus lábios eram demasiado pequenos para tapar os seus dentes acastanhados. Tinha uma cicatriz funda num dos lados da cara. Estava a seguir-nos!

3

Decidimos parar e encarar aquele estranho. O meu coração batia tão de força que achei que ele o conseguia ouvir. Olhei para ele, observando as suas feições e roupas. Ele não gostou do meu olhar observador. Gritou: "Para onde estás a olhar, miúdo?"

4

O homem alto pegou em mim como num pedaço de papel amassado. Atirou-me para a parte de trás de uma carrinha que estava estacionada no campo e depois entrou para a parte da frente. Outro homem que estava dentro da carrinha vendou-me e atou-me as mãos atrás das costas. Depois o condutor arrancou à velocidade de uma ambulância.

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Naquele momento, virámo-nos para correr. Não fui suficientemente rápido. Ele agarrou-me pela camisola e puxou-me para trás bruscamente com uma mão. Segurou-me com tanta força que achei que as minhas costelas iam partir. Mas o meu amigo Kiki escapou.

6

O homem que estava ao pé de mim pôs um pano húmido na minha cara. Tinha um cheiro doce e fez-me sentir sonolento e zonzo. Adormeci. Quando acordei, dei por mim sentado no chão num quarto escuro com teias de aranha e ratos. Já não estava vendado.

7

A porta do quarto escuro abriu ruidosamente e entrou um homem com um prato. Era o homem que me tinha vendado e dopado. "Aqui tens comida. É melhor comeres porque vais numa longa viagem", murmurou o homem. Cortou as minhas amarras com uma faca afiada que tinha no cinto.

8

Quando ouvi a palavra "viagem", decidi comer para ter forças para me salvar. Enquanto comia, o homem sentou-se e fumou um cigarro. O fumo encheu o quarto. Antes de acabar de comer, bateram à porta.

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Os outros dois homens entraram com um rapaz de arrasto. Era o Kiki! Também o tinham apanhado. Agora estávamos os dois presos no quarto escuro.

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Percebi que o homem alto e feio era o chefe do grupo, pois dava ordens aos outros dois. Mas o homem que me trouxe a comida não parecia gostar do que eles estavam a fazer. Mais tarde, ouvimo-los a discutir fora do quarto. O chefe gritou: "Não me interessa se conheces a família dele. Não podes mudar de ideias agora."

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Esta discussão fez-nos perceber que um deles nos conhecia. Perguntei-me qual deles seria. O Kiki disse: "Temos de encontrar uma maneira de fugir. Os nossos pais não têm dinheiro para o resgate." Desamarrei o meu amigo e a sorte estava do nosso lado. Os homens continuaram a discutir e começaram a lutar. Trancámos a porta por dentro silenciosamente e começámos a procurar uma forma de escapar.

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Vimos algumas fendas por onde entrava luz nas tábuas de madeira que estavam pregadas na parede. Puxámos uma delas até que os pregos caíram. Puxámos outra e ainda outra, até que a luz se tornou mais forte. Atrás das tábuas havia uma pequena janela com o vidro partido!

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Rapidamente, tomámos uma decisão. O Kiki era mais rápido e pequeno do que eu e podia ir pedir ajuda. Então, cobrimos o vidro com os nossos casacos e eu ajudei-o a subir. O Kiki passou pela janela. Não estava longe do chão e ouvi-o cair de pé e respirar fundo. Depois fugiu.

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Por esta altura os homens tinham ouvido o barulho que tínhamos feito e estavam a dar pontapés à porta. Irromperam na sala e ficaram a olhar para a janela. Depois correram para fora aos empurrões, sem saber em que direção ir. Estavam furiosos, especialmente o chefe feioso. Bateu-me e gritou: "Os teus pais vão pagar por isto!"

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Os homens voltaram a pregar as tábuas na janela e fecharam-me no quarto. Mas ainda não estavam de acordo – eu conseguia ouvi-los a discutir novamente. O homem que fumava muito queria soltar-me. O condutor tinha receio que o meu amigo encontrasse o caminho de volta e trouxesse a polícia. E o chefe feioso, esse queria o dinheiro do resgate.

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Pareceu passar uma eternidade até eu ouvir um leve bater na janela partida. Uma voz de adulto disse: "Não tenhas medo. Chegou a polícia. Deita-te no chão, cobre a cabeça e não te mexas."

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Não sei o que aconteceu a seguir. Aconteceu tudo! Os homens foram apanhados de surpresa pela polícia que invadiu a sala onde estavam. Houve muitos gritos, barulho e alguns disparos.

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Uma mulher polícia abriu a porta do quarto onde eu estava. Levantou-me do chão e enrolou um cobertor à minha volta. Disse-me: "O teu amigo teve sorte. Encontrou a estrada principal perto daqui. Estávamos em patrulha quando ele correu para a estrada. Depois de ouvir a história dele, pedimos reforços e viemos dar uma lição a estes criminosos!"

19

Os três homens foram presos, algemados e metidos numa carrinha da polícia. Eu entrei num carro com a mulher polícia. Ela levou-me a casa, aos meus pais, que estavam muito preocupados. Depois desse dia, o Kiki e eu tornámo-nos mais cuidadosos nas nossas explorações.

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Raptados!
Author - Richard Khadambi, Collins Kipkirui
Translation - Translators without Borders, Isabel Coelho
Illustration - Abraham Muzee
Language - Portuguese
Level - Longer paragraphs